Cannes tem se revelado mais do que uma grata surpresa. É um epicentro de conexões e encontros que a rotina agitada do dia a dia simplesmente não permite. Um lugar para finalmente conhecer e interagir com pessoas que admiramos, mas que raramente temos a chance de encontrar fora do ambiente de trabalho.
Mais do que isso, Cannes é um caldeirão de reflexões. Seja nos talks inspiradores do Palais, ou nas conversas mais informais durante almoços e jantares, cada momento é uma oportunidade. Das palestras menos dinâmicas às apresentações mais aguardadas (e as inesperadas também), invariavelmente, alguma ideia ressoa e provoca uma nova perspectiva.
A celebração dos 20 anos do YouTube trouxe Brandon Baum (criador de conteúdo com quase 17M de inscritos em seu canal) ao palco, que demonstrou as aplicações da Inteligência Artificial na produção de vídeos. Sua mensagem foi clara: não haverá mais limites para a imaginação. O que você conceber pode ganhar “vida” com a IA. Nesse cenário de ferramentas cada vez mais acessíveis, a diferenciação estará no storytelling.
Em outro momento igualmente instigante, Peter Jackson, renomado cineasta conhecido pelas trilogias “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”, falou sobre a curiosidade e como as novas gerações podem se beneficiar dela no contexto da IA.
Por trás do palco e do brilho, o Palais pulsa com a atmosfera, as preocupações e os anseios do nosso mercado. A preocupação com a ruptura em toda a cadeia de criação e produção é real e precisa ser tratada com responsabilidade e cuidado. Mas é, inegavelmente, uma realidade e, como se ouve por aqui, um caminho sem volta.
O icônico David Droga, ao final do quarto dia, ofereceu um conselho direto e poderoso: “abrace”. Para um profissional que expandiu os limites da publicidade, transcendendo a comunicação para além dos meios tradicionais e incorporando disciplinas como arquitetura e sustentabilidade, sua mensagem é um convite para o futuro.
Como CEO da Accenture Song, Droga vê o futuro da criatividade não apenas em filmes ou anúncios – mas em produtos, plataformas, sistemas e até mesmo políticas governamentais. Ele desafiou os criativos a expandir seus horizontes. “A criatividade não deve se limitar a coisas descartáveis”, disse ele. “Pode ser arquitetura. Pode ser lei. Pode ser sistemas.”
Sobre a IA, coragem e cuidado: “Nós somos os que dão significado à IA. Se não a moldarmos, outra pessoa o fará. E eles podem não se importar tanto”, alertou.
As reflexões finais de Droga retornaram ao tema que ecoou durante toda a sua fala: criatividade sem coragem é vazia. “O risco é onde o futuro vive”, disse ele. “É onde a alma da criatividade vive.”
O legado de David Droga não está apenas nos Grand Prix e Leões de Titanium que ele ganhou, mas em um pensamento mais ousado, propósito mais profundo e um futuro onde os criativos moldam o mundo, não apenas o refletem.